Sujar-se!




Parque Curupira: espaço natural (ou quase) em meio à urbana Ribeirão Preto. Ainda que suas quedas d´agua sejam artificiais, o ar limpo e o verde é o que prevalecem. E o que motiva: adeptos da caminhada e corrida fazem do local uma "academia" ao ar livre. Assim também o sou. Não tão assídua. Mas persistente. Diria, até, insistente. Não só por caminhar. Não só por hábitos saudáveis. Mas também por querer/gostar de ficar comigo mesma. Pois assim é que me sinto quando caminho: eu comigo. Contudo, não foi assim sexta - feira. Ao contrário, vi quantas podem haver em mim. Melhor: não vi. Fizeram-me ver. 

 Foi na segunda volta. Havia percebido um barro denso, no meio da pista de corridas. Porém, ainda não sabia de onde era. Até que parei para atender o celular. Foi então que observei, no meio do parque: uma pequeno lago de lama. Bem ali, próximo à entrada da pista. Voltei a correr, mas agora com a ressalva: tomar o cuidado de não me sujar. Foi o que fiz. Desviava da lama, durante todas as voltas. Só não contava com um fato: nem sempre desviar-se é suficiente. Ás vezes, é preciso mudar o caminho. Como não o fiz, acabei me sujando. Mesmo sem ter pisado na lama. Saí com lodo. Na mente. No pensamento.Tudo isso, graças a um grupo. Não de corredores. Não de atletas. Mas de sujadores! Isso, cinco crianças que me deixaram imunda. E sequer perceberam. Pois, do mesmo lodo do qual me desviei, elas não. Ao contrário, ao perceberem-no, quiseram senti-lo. E fizeram mais: transformaram-no em uma piscina. De risos. De brincadeiras. Assim, todas sujas, gargalhavam. Uma das outras. De si mesmas. Como se aquilo não fosse lama. Como se sujas não estivessem. Daquele mesmo lodo do qual me desviei...

Fui embora. Apesar das roupas limpas, meus pensamentos estavam sujos. De idéias. De reflexões. De como aquilo era uma situação cotidiana. Irritavelmente rotineira. E não a percebemos. Ou melhor, preferimos não percebê-la. Isso porque, optamos sempre por estarmos limpos. Sujar-se significa por-se em risco. É tentar. E não queremos isso. Desejamos o conforto da higiene, da limpeza. Só que nos esquecemos de algo: assim como as crianças, podemos, certamente, sermos felizes quando nos sujamos. Melhor: podemos gargalhar. De nós mesmos. Dos outros. Da vida. Evitar a lama, o lodo possível (mas não certo) que a vida nos dá é não arriscar. É não tentar. E uma vida sem tentativas, é o mesmo que pescar sem isca. Não tem sentido. Grito então: vamos nos sujar! Vamos pedir que a vida nos suje! De experiências. De tentativas. De oportunidades.
Ligue pra ele no dia seguinte (ainda que ele não atenda!)
Chame aquela amiga pra sair (mesmo que ela recuse!)
Apresente o projeto à empresa (sim, ele pode ser negado. E daí?)
Assuma quem você é (não importa se os outros vão assumir você ou não!)

Lama. Lodo. Isso, na minha visão. Já para as crianças. Risadas. Gargalhadas. Mesma paisagem. Porém, perspectivas diferentes. Todos veem. Mas cada um decide o que quer enxergar. Eu, vi lama. Elas, divertimento.

E você? O quanto se permite sujar?
Eu? Sou lama...Sou lodo....