Quantas tatuagens?


       Foi em um de nossos encontros aos sábados. Logo após o almoço, dentro do carro. Quando tomei consciência, já as tinhas. E nunca havia percebido. Minhas tatuagens. Espalhadas pelo corpo, como uma história em quadrinhos. E, só as vi, quando a Ana terminou de narrar os fatos.
          Contava a história de uma amiga. Melhor, de uma "parcerona" (grifos da Ana). Falava das aventuras, dos dramas, amores, perdas que a amiga tivera. Tantos eram que só sentir não era suficiente. Precisava registrar. Não com fotos, não em livros ou cadernos. No corpo. De tal forma que sempre visse. Mesmo quando não quisesse, já que o espelho não nos dá essa chance. Foi então que deu um nó. Melhor, um não: vários. Todos, em todo o cabelo. Mesma "parcerona", só que agora cheia de dreads. Tudo para marcar um amor que já não mais tinha.

       O sábado terminou. Mas, como os dreads, a história ficou em minha cabeça. Não me lembro de toda a narração. Mas, recordo-me do fato: transformar o cabelo para registrar uma experiência. Uma perda, uma saudade...Todos esses sentimentos que ficam desenhados em nós. Como tatuagem. Seja uma mudança no cabelo, uma cicatriz no braço ou até mesmo um desenho no corpo. Marcas que traduzem nossa história. Tanto que sentimos a necessidade de registrar. Por isso, cortamos o cabelo, mudamos o esmalte.  Qualquer coisa, desde que registremos nossas vivências.

       Tatoo, tatuagem, tatouage. Não importa o idioma. Em qualquer local, a técnica é igual: uma aplicação subcutânea. Para qual fim? Modificar a pele, mudar o corpo. Geralmente, feita por tatuadores. Mas, em grande parte, a arte é de nossa autoria.

        E aí? Quantas tatuagens você tem?

               ....Eu? Tenho muitas ainda pra tatuar...